Um apelo à razão

Clube Damas de Ferro
3 min readFeb 25, 2021

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A filosofia desenvolvida por Ayn Rand, o objetivismo, é baseada em um preceito básico, tido como o meio de todo o conhecimento e pilar fundamental de todo o ser humano: a razão. O surgimento do pensamento filosófico, datado do século VI a.C., na Grécia antiga, está atrelado à necessidade de explicar os fenômenos de forma racional, sem um apelo ao sobrenatural. Tales de Mileto é conhecido como o primeiro grego a buscar um conhecimento com base no saber sistemático, na racionalidade. Por este motivo, é considerado o primeiro filósofo pré-socrático.

Ao longo dos séculos, pensadores de várias vertentes se debruçaram perante a razão para metodologia para um pensamento crítico e fundamentado, mas foi no século XVII, especialmente na França, que um movimento intelectual estritamente baseado nela veio a surgir com força: o iluminismo. Dentre outras conquistas, foi no “século das luzes” que o absolutismo monárquico veio à decadência na Europa. Além disso, foi devido ao iluminismo que a ciência ganhou lugar de destaque e onde o liberalismo começou a ganhar forma com pensadores como John Locke (1632–1704) e Adam Smith (1723–1740). Mas, o que vem a ser, de forma clara, a razão?

A razão nada mais é do que a capacidade de raciocínio, lógica. De encontrar coerências e contradições na realidade. De transformar as percepções que recebemos do ambiente em conceitos e, logo, conhecimento. Capacidades essas que são encontradas com complexidade muito maior em uma espécie de primata muito singular: o Homo sapiens (do latim “homem que sabe”). É devido a essa faculdade característica do homem, que a humanidade pôde evoluir tanto durante os séculos que se decorreram desde o surgimento do comportamento moderno, há cerca de 50 mil anos. É por conta dela que o ser humano pôde desenvolver sistemas que melhor atendessem às necessidades de comércio e de vida em sociedade. Assim como, é por conta da capacidade de raciocínio humano, de discernimento entre o que é mais eficiente perante julgamentos sobre a realidade, que os indivíduos puderam usufruir de suas aptidões naturais de uma melhor forma, assim como pôr em prática aquilo que consideravam mais correto em determinados momentos. Mas, por onde anda a razão presentemente?

Em um trecho da que é considerada a maior obra de Rand, A Revolta de Atlas, é dito o seguinte: A sua mente é o seu único juiz da verdade — e, se os outros discordam do seu veredicto, a realidade é a última instância de apelação. No entanto, se Ayn Rand não tivesse partido em 1982, certamente ainda estaria escrevendo romances criticando a decadência da racionalidade nos indivíduos. O cenário atual é caracterizado por pessoas que, na hora de tomar decisões, levam mais em conta seus impulsos neurológicos — conhecidos como emoções — do que sua incrível capacidade de raciocínio. O indivíduo foi capaz de construir obras gigantescas, meios de transporte que ultrapassam as nuvens, desenvolver aparelhos que conectam as pessoas no mundo inteiro e de chegar até a Lua, e tudo isso devido a sua radical habilidade de pensar.

Mas, em simultâneo, é visto uma onda de indivíduos que põe em xeque a ideia de que o homem se diferencia dos outros animais justamente pela razão. Seres que impõem ideias e métodos sem sentido, mas que produzem uma coercitividade dada a queda da virtude racional. Ideais essas que se beneficiam e se enraízam pela própria falta da razão em detrimento das emoções. Mas, como lembra Rand: a razão não é automática. Os que a negam não podem ser conquistados por ela. Ela é fruto de uma interpretação sistemática da realidade, sendo assim, nem todo o pensamento é racional, sabendo que ela se baseia em um rigoroso discernimento. Ela foi adquirida pela evolução biológica e motivo de nossa evolução social. E, nas palavras de Ayn Rand, é o único instrumento de sobrevivência do homem e deve ser o seu único referencial. Sendo assim, faço aqui um pedido para que usufruamos de nossa capacidade mental. E um apelo à razão. Um apelo àquilo que nos torna seres humanos.

Texto por Maycon Trindades
Arte Dayane Matos.

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