Resenha: o Deus da Máquina — Isabel Paterson

Clube Damas de Ferro
3 min readJul 5, 2021

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Isabel Paterson, a jornalista excêntrica e liberal, começou sua carreira como escritora cedo, em 1910. Escreveu inúmeras colunas de jornal, tecendo críticas sobre os mais diversos assuntos, entre eles, as sociedades coletivistas e o New Deal. Também escreveu romances, como The Shadow Riders, onde contava a história de uma jovem em busca pela sua independência. Seus textos já demonstravam os valores e modelos que defendia, como o individualismo e capitalismo, mas foi somente em 1943, com a publicação de O Deus da Máquina, que Paterson se consagrou como uma imponente defensora da liberdade.

Na obra, Paterson faz analogias com conceitos de física e engenharia elétrica, de modo a demonstrar como certas experiências seguem determinadas leis, assim como nos meios técnicos em que usa de exemplo, e para explicar como o “fluxo de energia” ocorre nas sociedades. O termo “energia” abordado pela autora é aquilo que é posto como o maior poder dos indivíduos. É ela que move as nações e faz com que os seres exerçam suas funções por si mesmos, criando, trabalhando e produzindo. O indivíduo é o deus por trás da máquina e é por meio dele que a prosperidade é alcançada.

Uma das ideias mais interessantes de Paterson é a de sociedades de contrato e de status. Para ela, sociedades de status são aquelas compostas a partir da função que um ente tem perante um grupo de indivíduos, ou a submissão perante um coletivo. Nesse sentido, logo, estas sociedades privam os indivíduos de pôr sua energia em ação. No entanto, outro modelo de sociedade apresentado é a “de contrato”. Nela, os indivíduos são livres para produzir e tem sua energia não privada. São livres entre si e podem beneficiar-se mutuamente, e, assim, o fluxo de energia é exercido e percorre por todo o circuito da nação.

Além de uma obra contendo teorias e ideias, Paterson conta não a história cronológica da teoria liberal, mas a história da liberdade como peça essencial na máquina para haver ascensão, citando de Roma às Américas; de Pítias à Colombo; da economia feudal à economia atual. A autora ainda faz análises aos modelos da Espanha, Inglaterra e Japão, sempre com uma visão tendo por base o modelo de sociedade e economia que defendia.

Paterson discorre sobre o papel-moeda, guerras, escravidão, entre vários outros assuntos pertinentes e polêmicos, principalmente para a época em que viveu. No entanto, surge a sensação do leitor de que, por tentar expressar suas opiniões sobre as mais diversas áreas, além do mais com conceitos e analogias como as que traz, ela acaba por subverter alguns conceitos e formar visões um tanto quanto criticáveis e até mesmo, tendo em vista o conteúdo político, filosófico e principalmente econômico que temos hoje, consideradas erradas.

O Deus da Máquina traz importantes lições que podem ser avaliadas e usadas para uma eventual discussão e formação de pensamento, mas é necessário um pouco de receio quanto a alguns capítulos e referências.

Uma série de críticas às sociedades de status como Alemanha Nazista e União Soviética são vistas no livro, já que, segundo a escritora, tais sociedades advinham de um mesmo princípio: o coletivismo. Também faz um apelo por sistemas que permitam o correto fluxo de energia entre os indivíduos, de modo que o processo não seja interrompido e a corrente cortada.

A obra ainda debate questões que antes eram quase que “tabuladas”, como os subsídios dados às empresas e o sindicalismo obrigatório. Há um capítulo inteiro, denominado “O Humanitário e a Guilhotina” em que Isabel Paterson traz uma visão poderosa: políticas não devem ser analisadas por suas intenções, mas por seus resultados.

Isabel Paterson foi — com sua obra — um dínamo para o crescente, porém pequeno, movimento liberal/libertário da época, acompanhada de Rose Wilder Lane e Ayn Rand.

Ao leitor que tiver O Deus da Máquina em mãos, sugiro uma mente crítica, atenção quanto às analogias abordadas e apreço essencial pela liberdade como o motor de prosperidade da humanidade.

Resenha por Maycon Trindades.
Arte Dayane Matos.

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