Resenha da obra O Embuste Populista
Quando iniciamos os estudos sobre Liberalismo ou Libertarianismo, geralmente em um primeiro momento nos são indicados os nomes de intelectuais da Escola Austríaca, como Rothbard e Hayek, ou então a inigualável Ayn Rand. Contudo, raramente ouvimos falar de escritores que defendem de fato a liberdade dentro da América Latina.
Enfraquecendo esse paradigma surgem os autores Gloria Álvarez e Axel Kaiser, com a obra O Embuste Populista, publicado em 2016. Tais escritores trazem em seu livro o parecer de que os países latino-americanos não estão inevitavelmente destinados ao populismo.
Álvarez e Kaiser além de abordarem aspectos acerca da “mentalidade populista”, também nos apresentam e esclarecem características sobre o Neoliberalismo, bem como a paranoia antineoliberal. Trazem o exemplo de falas como as da estadista Cristina Fernández de Kirchner, que se desvencilhou da responsabilidade do fracasso de uma má gestão e transferiu aos neoliberais a culpa do desemprego e da crise.
Citando as ações e discursos de políticos como Kirchner, Chávez, Lula, Dilma Rousseff, Morales entre tantos outros, a obra mostra a forma como os Estados Populistas tornam os cidadãos dependentes de suas ações assistencialistas, para que os governantes sejam idolatrados e vistos como salvadores.
São proferidas mensagens que geram o chamado complexo de vítimas, novamente acusando as potências capitalistas de serem as causadoras de todos os males da economia, criando a necessidade de um caudilho que proteja a nação das conspirações externas.
Esse complexo tende a passar uma ideia de que a riqueza dos ricos causa a pobreza dos demais. Também leva ao pensamento de obsessão igualitária, onde, na verdade “todos” se tornam iguais, porém igualmente miseráveis financeiramente (com exceção dos que estão no poder).
Outra consideração importante ressaltada nos escritos dos autores, trata-se da influência da Igreja Católica para o fortalecimento e popularidade do fenômeno socialista e populista latino-americano. Os autores relembram a histórica desavença da Igreja com o impacto das ideias liberais. Os valores coletivistas aproximaram a Igreja e os idealistas marxistas, para “salvar o homem da idolatria do dinheiro e da exploração capitalista”.
Na obra também é criada uma consciência sobre as diferenças entre a real defesa da democracia e as distorções feitas sobre o seu significado, transformando-a em mecanismo de concentração de poder. Conforme os autores, a única democracia fiel é a de origem liberal, pois esta: deve limitar precisamente o poder dos governantes, ou seja, o oposto do que estamos acostumados na América Latina.
Na luta pelo poder a palavra se torna arma mais potente, carregada pela munição dos valores emocionais, e muitas vezes por uma idolatria de Estado que manipula o eleitorado. A realidade é desfigurada e se cria uma consciência coletiva. Todo sistema populista precisa de intelectuais que projetem ideias a seu favor.
Há uma receita para que ideias sejam aceitas pela população. Em “O Embuste Populista” é utilizado uma citação do escritor George Orwell para embasar a afirmação acima: os piores crimes, de acordo com Orwell, podem ser defendidos simplesmente mudando as palavras com as quais eles são descritos para torná-los digeríveis e até atraentes.
Os autores ainda expõem as questões que envolvem a criação da hegemonia cultural e o sucesso populista. A identificação da vontade coletiva com as decisões dos governantes. Atitudes como unir o exército e o Poder Judiciário ao Estado, fortalecem cada vez mais os ditadores/presidentes.
A independência dos poderes, a liberdade econômica, estatização de serviços de saúde e educação, assim como uma população com o controle de suas propriedades e renda, não é o que os populistas desejam. Com a leitura do livro alvo desta resenha, podemos entender que se você tem a sua emancipação financeira, terá uma posição mais crítica sobre o governo.
O fator que mais chama atenção ao longo dos capítulos do livro, com certeza é a forma como é advertido não só os sinais do populismo como também as maneiras de resgatar a América latina deste embuste. Sendo o primeiro passo identificá-lo. Em consequência disso, o passo seguinte, conforme Gloria Álvarez e Axel Kaiser, seria nos reeducarmos em um senso republicano liberal.
Apesar dos autores utilizarem os EUA como exemplo de prosperidade e liberdade, também criticam a inútil guerra as drogas, usada como pano de fundo para desviar os olhares da corrupção tanto no país norte-americano, quanto em nossa América. Porém, a filosofia estadunidense e sua cultura histórica de liberdade é apontada como o motivo da diferença de bem-estar econômico em comparação aos países latino-americanos.
Um adjetivo para definir “O Embuste Populista” é: esclarecedor. A obra desvenda com muita lucidez, diversos aspectos da mentalidade populista, o que também o torna um texto de muita validade para a educação política, econômica e histórica. Seria uma ótima aquisição para cursos universitários, no entanto, acredito que seja pouco utilizado no meio acadêmico por conter um viés liberal.
No livro é explanado o conceito da linguagem como ferramenta de domínio das massas, entretanto, Gloria Álvarez e Axel Kaiser utilizam as palavras honrosamente em defesa da liberdade.
Texto por Thaina Garzlaff.
Arte Fernanda Safira.