OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS?
A filosofia sempre foi muito importante, é a partir dela que surgiram áreas cruciais no mundo atual e a ciência política é uma delas. Existe a discussão (importante) sobre as formas de governos na filosofia, Maquiavel defendia que existem duas formas de governo: ou elas são principados, ou são repúblicas. Para Montesquieu tínhamos a República, a monarquia e o despotismo.
Entre as formas de governos, existem os regimes, o que decerto não deve confundir-se, pois os regimes são características que pode ou não possuir na forma de um governo. Nesse caso, os regimes são três: democrático, autoritário e totalitário.
Nesse texto, nosso foco é nos regimes que são antidemocráticos e ameaçam a liberdade, que surgem e ganham força após a Primeira Guerra Mundial e em que alguns ainda flertam atualmente. Primeiramente, vamos entender o que são esses regimes (autoritarismo e totalitarismo) e suas características.
Regimes antidemocrático e suas características
O autoritarismo é marcado por um sistema de liderança, onde o líder possui o poder absoluto e autoritário, ou seja, estabelece-se um poder centralizador cujo não há reconhecimento da liberdade como primeira instância, mas sim a uma suposta ordem social. Como a figura do governo é autocrática, não seria necessário o pluralismo de correntes políticas ou instituições participativas no poder, como acontece em um estado democrático. Ainda, se utiliza coerção, manipulação e até a força física que se torna argumentos para (re)estabelecer a ordem.
Por outro lado, apesar de possuírem semelhanças, por serem regimes ditatoriais, o regime totalitário no que lhe concerne, possui o controle máximo da sociedade (vida pública e privada), tanto de forma coercitiva fisicamente e psicologicamente, utilizando-se de uma educação ideológica para fomentar um pensamento doutrinante que visa propagar a ideologia do governo. A utilização do terror também faz parte de um regime totalitário, para perseguição ao um “inimigo comum”, a causa de todo mal, que justificaria as ações deste regime e que nesse caso, o líder (ditador) é o salvador da pátria, não só vermos apenas o culto da personalidade, como também o patriotismo exacerbado, ou seja, o nacionalismo.
Mas será que os fins justificam os meios? Apesar de essa frase ter sido atribuída ao filósofo político e escritor Nicolau Maquiavel, a frase cai bem para regimes antidemocráticos ou para governos que se dizem democrático, mas que, na verdade, usam a máscara da democracia. Como dito no texto Maquiavel e a Filosofia Política, seu escrito — principalmente, O Príncipe — seria um manual de como a política é feita.
Como O Príncipe, seja um escrito direcionado aos principados, governados apenas por uma pessoa, é possível extrair do livro informações que nos ajudam a compreender os regimes autoritário e totalitário?
“É bem mais seguro ser temido do que amado, caso venha faltar uma das duas. […] Por que o amor é mantido por um vínculo de reconhecimento, mas como os homens são maus, se aproveitam da primeira ocasião para rompe-lo em benefício próprio, ao passo que o temor é mantido pelo medo da punição, o que não esmorece nunca.”
Em um regime antidemocrático, há duas características muito importante e citadas acima que é o culto a personalidade e a utilização do medo para obediência. O culto à personalidade, uma forma de propaganda que eleva a figura política de forma exagerada de suas supostas virtudes e méritos, ocultando seus defeitos ou qualquer crítica, a ponto de chegar a uma dimensão quase religiosa. É uma estratégia muito usada em regimes totalitários, que não apenas legitima e justifica suas ações como um grande líder, mas também cria um ambiente de adoração e medo.
O exemplo mais atual, seria a Coreia do Norte. Após a guerra da Coreia, Kim II-Soug consolida seu poder e a população passa a vê-lo como uma divindade. A partir de 1949, as primeiras estátuas foram erguidas e que passa a ser conhecido como o “sol da nação”, após a sua morte o filho Kim Jong-Un ocupa o cargo, mas o culto a personalidade continua.
“ É necessário saber camuflar bem essa natureza, ser um grande fingidor e dissimulador, e os homens são simplórios e obedientes às necessidades imediatas que aquele que engana sempre encontrará quem se deixa enganar.”
Quando se trata da política, uma estratégia comum é mostrar sua imagem como uma pessoa boa, que está ali pelo povo ou mesmo o salvador. O fato é que possui aqueles que acreditam e até mesmo se tornam seguidores. O Nazismo, por exemplo, Adolf Hitler usando discurso ideológico e expondo um “inimigo perigoso” que deveria ser vencido, acabou conquistando muitos seguidores. Mas, em simultâneo, quando esses regimes entram no poder, há uma limitação de informações e a forte propaganda — em que o nazismo fez um grande uso — e explicações de ações absurdas para o bem comum ou por uma ordem, torna-se justificativa para o fim.
Um exemplo ideal é o filme/série de Uma Noite de Crime (The Purge), em que a história gira em torno de uma lei que uma noite ao ano, as pessoas têm o direito de liberar seu ódio (purificar) e cometer quaisquer crimes sem ser responsabilizado. Aqueles que participam, para justificar as atrocidades cometidas, é que é a lei e que elas têm o direito de fazer isso.
“ Aquele que tem o Estado de alguém nas mãos jamais deve pensar em si, mas sempre no príncipe.”
Para deixar claro, nesse trecho Maquiavel fala de um ministro, uma pessoa que faz parte do governo, que não deve possuir interesses próprios e deve está ali pelo príncipe. Porém, podemos abranger essa visão. Em um governo antidemocrático, é comum haver a eliminação do indivíduo, os interesses de cada indivíduo é eliminado para acolher o bem comum, o bem do coletivo. Nesse caso, a famosa frase de Benito Mussolini de “Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado” mostra que a população, ministros, exércitos ou qualquer outra pessoa em um cargo político, ou não, deve está disposto ao Estado, ou seja, está entregue inteiramente aos princípios do governador e ditador, disposto a lutar e morrer por aquilo.
Qualquer conduta que seja contra o movimento que procura estabelecer ordem ou ser contra o bem do coletivo, torna-se inimigo do estado. Ele deve ser caçado, preso e até mesmo morto.
Apesar de tirar pequenos trechos para demonstrar ser possível extrair informações em uma simples leitura de um livro, é possível também utilizamos essas informações para percebemos estratégias simples e quase óbvias, mas que não é possível por está com olhos velados ou mesmo por jogos de carisma, despertando sentimentos nas pessoas para encantar e conseguir o que quer. Pois, o objetivo final não tem nada a ver com a ordem e o bem comum, querendo o bem de todos os cidadãos, mas o fim é unicamente o próprio interesse de estar no poder. Para o ditador sim, os fins justificam os meios.
Texto por Bruna Batista.
Arte Fernanda Safira.