O embuste populista: Gloria Álvarez e Axel Kaiser

Clube Damas de Ferro
8 min readAug 5, 2021

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No mês de julho às discussões do Clube Damas de Ferro começaram a se inspirar na obra “O embuste populista” de Gloria Álvarez e Axel Kaiser. Esses nomes são pouco utilizados no debate político nacional, por mais que defendamos as ideias utilizadas pelos autores com bastante precisão de frequência. Diante disso, resolvemos contar um pouco sobre essas duas figuras que acompanharão os membros do Clube e nossos leitores durante as próximas semanas.

Inicialmente, iremos conhecer a história e vida pública de Gloria Álvarez, libertária assumida e dedicada em levar as ideias de liberdade individual para a população de Guatemala. Como sabemos, a Guatemala é um país localizado na América Central, tendo atualmente uma população de 18,3 milhões. É nesse pequeno país que nasceu a nossa autora do mês, mas a história de Gloria em defesa da liberdade pode ser contada a partir da vida da sua avó paterna e da sua mãe.

Stella Yvette Cross Letona, mãe da Gloria, tem descendência húngara e é uma sobrevivente do regime soviético, de onde fugiu e encontrou refúgio nos Estados Unidos. Quando chegou no continente americano acabou conhecendo a sua futura sogra, mãe de José Manuel Álvarez Torriente, comerciante e exilado cubano após a revolução socialista no país, — infelizmente não foi possível encontrar o nome da avó paterna de Álvarez, por isso continuaremos tratando-a como avó paterna no decorrer do texto. A avó paterna era cubana, mas havia sido transferida para a Venezuela pela Nestlé — empresa que trabalhou por longo período. Ela havia saído de Cuba em 1957, após um longo período fora de seu país de origem começou a pensar no retorno, mas foi aconselhada por familiares a não retornar, já que não concordava com o regime totalitário que dominava o país. Por esse motivo, a família de Gloria Álvarez optou pela Guatemala e fixou residência por um período, após se mudarem para El Salvador e, quando Álvarez tinha 16 anos, retornaram definitivamente para a Guatemala.

Quando finalizou o ciclo da educação básica, a autora adentrou no mundo intelectual e se formou nas áreas de relações internacionais e ciência política na Universidad Francisco Marroquín, instituição privada na Cidade da Guatemala. Continuou seus estudos no mestrado, defendendo a sua dissertação em Roma, na área de desenvolvimento internacional. Gloria conquistou popularidade graças ao avanço tecnológico e a mágica de comunicação das redes sociais, expondo seu conhecimento e defendendo suas opiniões em defesa da liberdade e denunciando o populismo.

Então, no ano de 2019 decidiu se candidatar à presidência da Guatemala. Utilizando as redes sociais, meio que promoveu o seu nome desde que iniciou a sua jornada política, denunciou o populismo, enfrentando a corrupção e atacando fortemente as instituições burocráticas; essas são denominadas pela autora como as três pragas que assolam o continente americano, principalmente a América Latina. Como uma libertária, Álvarez publicou em sua conta do Facebook um emocionante discurso, dizendo:

“Sou a presidente de todos os fodidos desse país. Sou a presidente da menina de nove anos que ficou grávida depois de ter sido estuprada pelo avô, pai, tio ou irmão. Sou a presidente dos homossexuais que foram espancados por aqueles que aprenderam a odiar o diferente. Sou a presidente de quem sabe que o racismo é idiotice porque somos um liquidificador genético. Sou a presidente dos que contrabandeiam produtos porque sabem que em outros países eles são mais baratos. Sou a presidente dos que estão cansados de o governo ser dono do subsolo e da água. Sou a presidente dos que estão fartos de pagar subornos para fazer negócios enquanto a oligarquia é protegida pela lei. Sou a presidente dos que estão fartos da corrupção parasitária. Sou a presidente das vítimas de crimes que ficam sem justiça. Sou a presidente dos que têm coragem de governar a si mesmo. Sou a presidente do interior que não aguenta mais pagar impostos para manter a capital corrupta. Sou a presidente de uma Guatemala livre e soberana”.

Podemos referenciar Gloria Álvarez como o tordo da América Latica? Será que ela conseguirá reunir a população para acabar com o Presidente Snow, o monstro populista da trilogia e da nossa realidade? O que estremece a nossa esperança em construir um continente com os princípios da liberdade individual e do livre mercado é saber que a candidatura da autora foi considerada inconstitucional — ela sabia dessas questões legais quando se pronunciou, mas como uma libertária e seguindo os princípios morais, enfrentou a lei por considerá-la imoral -, a constituição da Guatemala estabelece a idade mínima de 40 anos para presidente, em 2019 a autora tinha apenas 34 anos. Mas, como todos nós sabemos, o avanço das ideias pró-liberdade estão em crescimento constante na última década e conquistamos espaços que não imaginávamos a duas décadas atrás.

Atualmente, Gloria Álvarez é apresentadora de programas na rádio e televisão em seu país, dirigia o programa Movimento Cívico Nacional da Guatemala que tem como objetivo a participação política da população no cenário nacional da Guatemala, mas se afastou após denúncias de que o partido coligado ao movimento estava envolvido em corrupção, pois acredita que defender os seus valores é a base da liberdade. No lançamento da obra “O embuste populista” a autora veio ao Brasil, participou de eventos de projetos que defendem a liberdade e disparou fortes opiniões contra o governo brasileiro e suas políticas populistas.

Mas passemos agora ao seu parceiro de escrita em “O Embuste Populista”, Axel Kaiser.

Axel Phillip Kaiser Barents Von Hahehagen, seu nome completo, nasceu em 1981, na capital chilena Santiago del Chile. Filho de Hans Cristian e Rosmarie Kaiser, Axel, desde muito novo, nutria uma prudência no quesito pensar, se abstendo de fanatismos e buscando uma autodependência na sua atuação nas diversas áreas de sua vida.

Quando jovem, se formou em direito na Universidade Diego Portales, em Santiago, chegando a atuar algum tempo como advogado no seu país de origem, no entanto, algum tempo depois, se muda para a cidade de Heidelberg, a sudoeste da Alemanha, onde fica localizada a respeitada universidade que traz o mesmo nome.

É na Universidade de Heidelberg que Axel consegue seu mestrado em direito e o doutorado, este não sendo na área de direito, mas com uma tese curiosa: Estudos Americanos: os fundamentos filosóficos americanos no livre mercado chileno. Com o título de doutor, ele retorna à sua terra natal.

Axel é, em primeiro ponto, um acadêmico. Em sua volta ao Chile, começou a ministrar aulas na Universidade del Desarrollo, e posteriormente na Universidade de los Andes, em ambas ensinando em cadeiras sobre política na América Latina. Axel também nutria uma paixão — e conhecimento sobre um economista — ou O Economista — Friedrich Von Hayek e, sendo assim, recebe a honra de ministrar uma cátedra sobre Hayek na Universidade Adolfo Ibáñez.

Sua notoriedade como ativista político, no entanto, só ganhou voga quando, em 2012, entra para a Fundación Para el Progresso, a qual visa promover as ideias de liberdade no Chile. A partir daí, Kaiser começa efetiva, ou ativamente, em suas próprias palavras, “combater a perda dos esquemas de liberdade oriundos dos anos 70 e 80’. É importante dizer que a família de Kaiser também esteve e está envolvida com liberalismo, e Kaiser não é o único a defender essas ideias “dentro de casa”. Sua irmã, Vanessa Kaiser, é diretora do Centro de Estudios Libertarios, e seu irmão, Johannes Kaiser, tem um canal no YouTube de nome El Nacional-Libertário.

Seus livros publicados são muitos, e alguns vieram antes de sua fama estrondosa no país. Em 2009, “A Ignorância Fatal” fora lançada e, três anos depois, “A Miséria do Intervencionismo”, mas é “A Tirania da Igualdade”, de 2015, que traz um reconhecimento notável a Axel. Na obra, o autor aponta sobre as principais falácias sobre a aclamada e desejada igualdade, esta forçada e que leva a um declínio à liberdade. O livro conta com ótimas críticas e inclusive é considerado muito útil e sério para quem quer aprofundar nos principais conceitos e teorias do pensamento liberal.

Além de seus livros, atualmente ele também é colunista nos jornais El Mercúrio, Diario Financiero e El Libero, tendo publicados também dois artigos na Revista Forbes, um sobre o que chamou de “o fim do milagre econômico no Chile” e outro criticando as políticas adotadas por Michelle Bachelet no Chile.

Dentre suas ideias, uma que ganhou bastante destaque e gerou polêmica em 2013, foi a de que o ensino não era um direito, como publicou em uma rede social, e de que a educação superior não deveria ser gratuita. Kaiser ganhou críticas de setores da esquerda e da direita na época, associado a alguém anti-democrático e fundamentalista. No entanto, em algumas ocasiões ele explicou melhor seu posicionamento. Segundo Kaiser, partes da direita se associaram à esquerda e perderam voz justamente por defender essa pauta — do ensino gratuito — e, por outro lado, o setor que defendia e entendia a injustiça em um ensino público era rechaçada por não saber explicar sintética e objetivamente o que defendia de fato. Ora, afinal, é muito fácil ser chamado anti-democrático e “a favor das desigualdades” — como alguns ainda chamam Axel Kaiser — quando se fala contra a educação superior gratuita, por exemplo. No entanto, o que realmente se quer dizer é que se é contra que pessoas com renda mais baixa, paguem e mantenham aqueles que poderiam custear o seu ensino, sem se manter através de impostos pagos por outros. Este argumento de Kaiser se faz útil, já que tanto no Chile quanto no Brasil, a maior parte dos estudantes de universidades públicas são os mais ricos, de melhor condição econômica e que tranquilamente poderiam pagar sua formação sem que trabalhadores precisem arcar com impostos altíssimos para mantê-los estudando.

Uma curiosidade interessante de Axel é que ele foi cofundador do Students For Liberty em Heidelberg, cidade onde fez seu mestrado e doutorado. O SFL é uma organização de estudantes que tem por objetivo empoderar jovens liberais e espalhar as ideias com sede no mundo inteiro — inclusive aqui no Brasil, ao qual este blog e clube é vinculado.

Uma segunda coisa sobre Kaiser é que ele faz parte da Mont Pelerin Society, uma think tank — uma espécie de grupos de estudos formados por intelectuais das mais variadas áreas. E, para o bom liberal conhecedor de história e fatos engraçados, a Mont Pelerin tem grande importância. Ela foi fundada por ninguém mais do que Friedrich Hayek e Milton Friedman, em 1947, e na primeira reunião da Mont Pelerin, em uma discussão acalorada sobre intervenção estatal, alguns intelectuais discordaram do expoente e conhecido Ludwig Von Mises, e o próprio, como conta Friedman, ao passo que os colegas defendiam uma partipação mais ativa do Estado, levantou, virou as costas, e chamou-os de “um bando de socialistas”.

No mais, Axel Kaiser promove debates e discussões em meios da mídia nacional com líderes e figuras da esquerda chilena. Ele é tido como um intelectual público, não somente restrito ao meio acadêmico, mas ciente que promover as ideais do liberalismo econômico e das liberdades individuais é de suma importância para o desenvolvimento social. Inclusive, Kaiser foi considerado em 2017, pelo jornal La Segunda, o 7° intelectual público mais famoso do país, e também é tido, segundo o jornal El Mercurio, como o principal expoente do liberalismo no Chile.

Gloria Álvares e Axel Kaiser lançaram juntos em 2019 “O Embuste Populista”, obra que reúne o pensamento dessas duas figuras do liberalismo latino sobre o populismo que ronda não só o continente, mas o mundo, e não é de hoje. E este livro é a leitura do mês do Clube Damas de Ferro.

Texto por Maycon Trindades e Tailize Scheffer Camargo.
Arte Fernanda Safira.

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