Eu sou eles
“Não há personalidade estampada naquele prédio — e nisso, meus amigos, está o que ela tem de grandioso”. Essa é a declaração feita por Toohey (exemplo coletivista usado por Ayn Rand) sobre o trabalho arquitetônico de Peter Keating, ela não reflete só isso, estampa-se nesse trecho o próprio Peter em todos os aspectos de sua vida.
Peter Keating, o personagem criado por Rand em ‘A Nascente’, é um arquiteto de prestígio advindo de uma educação tradicional e seu objetivo é ser exatamente o que o coletivo espera dele.
Quantos de nós já não se sentiu dependente da opinião alheia para fazer algo?
Quantos de nós já não se torturou só de pensar em algum julgamento alheio?
Relaciono Peter com um trecho do livro “Brevidade da Vida de Sêneca”,” este se vê esgotado por uma ambição sempre dependente de julgamentos alheios”, no momento em que descreve um dos piores comportamentos para se perder tempo de vida. Peter está esgotado, se exalta e sente-se infeliz em momentos que esperava ser contido e alegre. Isso é visto em várias passagens em que conversa com Howard Roark ou quando constrói prédios famosos.
Um homem acostumado a ser aclamado se vê diante de uma pessoa que trata suas conquistas com indiferença. Peter odeia Roark. Peter admira Roark.
Toohey percebe o pensamento de Keating e o manipula pregando ideias como: a verdadeira felicidade vem de servir as massas e de ignorar emoções egoístas, todos os homens são iguais, seu trabalho não deve refletir você. E, mesmo que Peter tenha consciência de sua contradição, continua concordando com as afirmações para ser aceito por Toohey.
Em um trecho específico é dito a Peter a seguinte afirmação: “Você nunca quis que eu fosse real. Nunca quis que ninguém fosse real. Mas não queria que isso ficasse óbvio. Queria uma atuação que ajudasse a sua atuação”.
Peter é uma atuação e se cerca de outros atores para fechar a cortina com chave de ouro
Demoramos tanto para nos conhecermos, perdemos muito tempo nos vendo nos olhos de outrem, assim como Keating. Você espera ser escravo desses olhos ou escolher seu próprio caminho?
Texto Stephanie Gonçalves
Arte Dayane Matos