Em Defesa da Liberdade Alheia
“Eduquem os seus filhos, eduquem-se a si mesmos, no amor da liberdade alheia.” — Joaquim Nabuco.
A quem interessa o amor à liberdade alheia?
A resposta pode ser mais difícil que parece, na realidade é difícil amar a liberdade do outro. É fácil amar a liberdade quando somos os beneficiários diretos, o empresário prefere liberdade econômica, o crente quer liberdade religiosa, ao passo que o artista deseja ter livre expressão, mas quando se esforçam para universalizar essas mesmas liberdades, o empresário reclama que enfrenta uma concorrência predatória, o crente quer o reconhecimento apenas da sua religião e o artista quer censurar quem o critica.
Joaquim Nabuco implorava que não nos apegasse a liberdade alheia em abstrato, mas sim a liberdade em concreto. A liberdade não se resume a teorias, mas se consagra em pessoas. Por exemplo: é a capacidade de um hétero em amar a liberdade do gay, do ateu ou muçulmano amar a liberdade do cristão, até mesmo de um sujeito que gosta de McDonald’s amar a liberdade de quem ama Burger King.
Se a bíblia nos fala para não amar o pecado, mas sim o pecador, o liberal também pode detestar o socialismo e o nacionalismo, mas amar o socialista e o nacionalista pode ser uma grande provocação: amar a causa daqueles que discordam de nossas ideias. Mas, essa mesma questão é o que define o que é ser liberal e não somente defender uma filosofia liberal. Porque ser liberal é agir a favor da liberdade individual e os prazeres mais instintivos da humanidade. Com apoio do filósofo espanhol, José Ortega y Gasset, se regozijarão sobre essa característica, ainda que pouco notável do liberalismo:
“O Liberalismo,” dizia Ortega y Gasset, “é a suprema forma de generosidade: é o direito que a maioria concede às minorias e por isso, o grito mais nobre que alguma vez se ouviu no planeta. Anuncia a determinação para partilhar a existência com o inimigo, mais do que isso, com um inimigo que é fraco. É incrível que a espécie humana tenha chegado a uma atitude tão nobre, tão paradoxal, tão refinada, tão acrobática, tão antinatural. Consequentemente, não é de admirar que a mesma humanidade queira ver-se livre dele. É uma disciplina demasiado difícil e complexa para ganhar raízes na terra”.
Nota-se que, por ser tão difícil, a assertividade dos liberais tende a ser fraca, superficial e até mesmo inibida. Por outro lado, teóricos estatistas aprenderam a comunicar suas ideias de maneira clara e pragmática e propuseram ‘soluções’, ou seja, mais dogmáticos. Não somente dominaram ambientes acadêmicos, como também invadiram o imaginário popular.
Com efeito, veja como todos os grupos sociais — mulheres, gays, negros, proletários, empreendedores, ativistas — podem se sentir representados por ideias estatistas. Dessa forma, infelizmente, uma grande parte dos liberais insiste em justificar suas ações com raiva e ódio aos grupos citados acima.
Muitos liberais, inclusive eu, têm uma difícil discussão com a esquerda (estatistas). Como dito antes, diversas vezes criticamos a esquerda por trocar o conceito de corporativismo com capitalismo. É relevante fazer a distinção, mas deve-se passar longe de ridicularizar os indivíduos dizendo serem analfabetos econômicos ou utilizando linguagem de maneira ofensiva, vamos orientá-los para os problemas da regulação estatal.
Os Liberais que apontam sempre modelos econômicos que deram certo pelo mundo em razão da prosperidade de riquezas, distribuição de renda e bem-estar, já passaram da hora de serem claros sobre nossa ideologia, também. Até porque, prosperidade por prosperidade, países autoritários também têm conseguido êxitos no campo econômico, a exemplo dos Países do Golfo e a própria China, o que torna ainda mais imperiosa essa demarcação ideológica. O foco apenas no campo econômico já não é mais suficiente.
É pelo amor à liberdade alheia que, como quando em 1869 Joaquim Nabuco dedicou sua vida a ser advogado e não defendeu um aristocrata brasileiro — mas, o escravo Tomás, que acabara de matar o seu próprio senhor. O motivo da abolição da escravidão não era mais uma atividade tão lucrativa, Nabuco não agia para receber compensação financeira. Agia por amor à liberdade alheia.
Para conscientizar as pessoas sobre a causa, a organização sem fins lucrativos Students for Liberty, movimento que treina estudantes para se tornarem melhores defensores das ideias da liberdade, apoia a iniciativa e leva para Brasília a campanha Livre da Fome, que busca arrecadar roupas e alimentos para pessoas em necessidade. Assim, o SFLB, partilha da ideia de educar, desenvolver e capacitar a próxima geração de líderes da liberdade e que por meio da tolerância, liberdade e cooperação voluntária torná-los agentes de mudança em suas comunidades. A organização defende o amor à liberdade alheia em todos os estados do Brasil através das 1037 lideranças, atuando no mundo todo e com premiações Great Nonprofits 2017 Top Rated.
Texto por Lucas Guimarães
Arte por Dayane Matos