Cérebros e ideias
Todos os defensores da liberdade — essa que compreendemos como a totalidade das liberdades individuais — já estão cansados de saber a máxima defendida por Ludwig von Mises, que apenas e unicamente as ideias podem alterar a nossa realidade e transformar nossos futuros. Todas as inovações que ocorreram e trouxeram benefícios — e também malefícios — foram originadas por indivíduos que compreenderam os problemas existentes e, através das suas ideias — em suma, inovadoras — transformaram problemas em soluções. Talvez, seja humanamente impossível fazermos uma construção histórica dos processos que cada indivíduo passou e superou para conseguir lançar os seus pensamentos em um papel, para posteriormente, colocá-los em prática na vida real. Entretanto, é possível sentirmos esse poder transformador hoje, nesse momento, enquanto estamos lendo esse texto em uma tela e não em um papel, ou talvez em outro material disponibilizado pela natureza e adaptado pelo homem.
Todavia, as ideias estão para além dos avanços tecnológicos, elas perpassam nossas relações sociais, a política local e mundial, economia, literatura, enfim, tudo que nos cerca. Esse poder dado a uma palavra, ideia, é tão antigo quanto a própria ideia de indivíduo, pois essa palavra está diretamente relacionada ao ser humano, é por ele, através da sua mente consciente e existente que a ideia ganha poder e sai do mundo abstrato, perpassando o concreto. Isso não é recente, encontramos desde sempre.
Isabel Paterson realizou um trabalho investigativo sobre o poder das ideias nas construções dadas na Grécia e em Roma, reparou que os fenícios foram os que contribuíram e originaram as ideias nascentes, tanto na Grécia como Roma. Mesmo que eles acabaram por se desintegrar, partindo para uma realização apenas imaginária, eles constituíram outras concretudes que colaboraram diretamente para os avanços posteriores. Para a autora, existe uma força que consegue colaborar para a disseminação das ideias, essa nova força conhecida veio do que hoje conhecemos como costume — o que difere de tradição -, por meio deste que as ideias conquistaram diferentes povos e contribuíram para o desenvolvimento das nações citadas anteriormente.
Foi por meio de ideias que Grécia e Roma iniciaram as suas constituições de cultura, política, sociedade e perspectivas de transformações sociais. Válido ressaltar que, diferente de hoje, as noções presentes nesse determinado contexto histórico são as inovações para as sociedades da época. Também, foi através do conhecimento de novas iniciativas que foi possível a percepção da importância do trabalho para a estrutura e projetos de vida do homem, pois foi assim que percebeu as mudanças acontecendo na sociedade. Assim, Paterson afirma que “um homem só pode pensar e trabalhar efetivamente se for por seu próprio benefício” (1943, p. 22).
Portanto, podemos perceber que antes de Mises, Isabel Paterson já nos mostrava que as ideias foram os principais agentes transformadores das realidades e inovações, desde períodos muito antigos. Assim, os atenienses pensaram livremente e começaram a utilizar o que hoje conhecemos como comércio, isso dando um poder transformador na sua própria instituição e atividades sociais. Também, os gregos deram início a nossa ciência.
Pode soar repetitivo, mas é necessário que o óbvio ganhe um replay sempre que possível. Apenas indivíduos com a possibilidade de uma mente livre, dispostos a encontrar os problemas presentes no mundo, com energia disponível para pensar em possíveis soluções e encarar as adversidades existentes, são capazes de transformar o que hoje nos incomoda. Por meio da iniciativa de cérebros abertos — entenda isso como uma metáfora, por favor — e das descobertas que podemos ter a possibilidade de melhorar, dia após dia, esse caótico mundo em que estamos. Sejamos nós esse cérebro, tenhamos nós as nossas ideias.
Texto e arte por Tailize Scheffer Camargo