APROPRIAÇÃO CULTURAL: RESTRIÇÃO À LIBERDADE

Clube Damas de Ferro
4 min readOct 28, 2021

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Todo bom amante das músicas Rock and Roll já teve a curiosidade de saber sobre a origem deste gênero musical atemporal. Sabe-se que ele surgiu nos Estados Unidos e é uma mistura de outros gêneros musicais, que faz parte da cultura negra. Mas o que a música tem a ver com Apropriação Cultural? Ao seguir a leitura você irá compreender, mas, primeiramente, vamos entender o que seria Apropriação Cultural.

O termo cultura é compreendido como um conjunto de crenças, leis, artes, condignos morais e costumes, determinado por um grupo social. Para as ciências sociais, a cultura seria o compartilhamento de símbolos, significados e valores de um grupo ou sociedade, de caráter humano, formada artificialmente, ou seja, não natural. Por sua vez, o termo apropriação refere-se a tornar algo próprio a si mesmo. Dessa forma, Apropriação Cultural, seria tornar própria alguma cultura — sejam objetos, símbolos, ideias, sons e entre outras coisas — que não seja sua, uma vez removidos de sua verdadeira origem. Agora que o termo está claro, podemos prosseguir ao primeiro questionamento:

Qual é o problema do significado de Apropriação Cultural?

Como dito acima, a finalidade da cultura é compartilhar símbolos, significados e valores. Quando em uma sociedade, a população compartilha dessa mesma cultura, ocorre o que chamamos cooperação. O que se enquadra perfeitamente no termo de “Ordem Imaginada” cunhado no livro Sapiens — Uma Breve História da Humanidade de Yuvai Harari. Para o autor, o ser humano consegue criar redes de cooperação em massa por meio da “ordem imaginada”, sendo uma ordem particular que não é necessariamente verdadeira, mas por se acreditar nela permite-se que um grande número de seres humanos cooperem entre si. A cultura em sua totalidade, seria um exemplo perfeito de uma “ordem imaginada”.

Nesta toada, seguindo uma visão libertária, o termo apropriação cultural não existe, a explicação para isso seria parecida com os critérios adotados em defesa da inexistência de propriedade intelectual, uma vez que apropriação se equipara a roubo e propriedade é um meio escasso, todavia a cultura não é um meio escasso, logo não há que se falar em roubo de cultura. Em outras palavras, se os mais de 7 bilhões de pessoas quisessem usar tranças, todas poderiam usá-las por não ser um meio escasso, portanto, não é uma propriedade e, por consequência, não pode ser roubada.

Outra pontuação relevante, seria que o objetivo de afirmar que apropriação cultural existe, é que ela tem a finalidade de manter suas origens mais puras, o que não condiz com a realidade histórica. A história evidencia que as culturas se modificam e sofrem influências de outras, bem como também são extintas. Um perfeito exemplo, seria a origem do salto alto, feito para cavaleiros persas (homens), para terem melhor posição dos pés nos estribos durante a montada. No decorrer do tempo, os saltos altos se popularizaram com Luís XIV, na França e tornou-se um objeto de distinção de status social. Atualmente, o uso é totalmente o oposto de suas origens, sendo agora um símbolo da feminilidade.

Há ainda diversos outros exemplos, que não convém mencionar no momento, o destaque que merece ser feito é a um grande problema: a apropriação cultural vai contra a liberdade. Quando se restringe que certo indivíduo não possa utilizar certos acessórios, pois estes condiz com sua cultura, está controlando o que ele deve gostar, usar ou fazer, o que soa demasiadamente autoritário. Insta ressaltar que quando um ser humano recorre a certos aspectos que são características de outra cultura que não a sua, é por que sente admiração e não repulsa, logo esse indivíduo tem a capacidade de tolerar a cultura que não condiz com a sua. Ademais, a defesa de uma lei existente sobre apropriação cultural, vai em confronto com a defesa de inclusão, que muitos dizem defender, pois, quando há a distinção de que o grupo X apenas pode usar isso e grupo Y aquilo, não há inclusão, mas a segregação. O que é oposto ao significado de cultura.

Retornando à questão do rock, que apesar de ter sua origem na música negra, o gênero musical só se popularizou com Elvis Presley, considerado o “Rei do Rock”. Decerto isso poderia ser considerado apropriação cultural por ele ser branco, porém o próprio nunca negou as origens do Rock e assumiu, ainda, ter tido influências de outros gêneros musicais que também são caracterizados como ritmos da cultura negra, como blues, R&B e Country. O que aconteceu é que Elvis tornou democrático o ritmo negro, uma vez que qualquer pessoa poderia admirar o ritmo contagiante. De um grupo seleto e mal visto socialmente, tornou-se popular e libertador. É assim é a cultura.

Texto por Bruna Batista.
Arte Domithila Novach.

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